Como o Saints está usando Taysom Hill para enganar as defesas



Há muito tempo perdido quando se prepara para jogar contra o Saints.

As equipes precisam se preparar para infinitas possibilidades, sabendo que apenas algumas delas acontecerão, e provavelmente haverá outras que nunca viram antes.

Mas eis o seguinte: essa imprevisível e inovadora equipe de New Orleans tornou-se ainda mais imprevisível e inovadora. O Saints é o maior metamorfo da NFL, com um ataque que pode utilizar onze formações diferentes em um jogo - mais do que algumas equipes usam em uma temporada inteira - como fez contra o Rams há algumas semanas.


E se isso não for ruim o suficiente, existem as variações infinitas dentro de cada uma dessas formações. O nível de inovação que os treinadores do Saints estão dispostos a usar para criar dúvidas se tornou surpreendente.

Por exemplo, contra o Los Angeles Rams, o Saints estreou uma formação com dois quarterbacks, um wide receiver, dois tight ends e um running back. O time usou essa formação cinco vezes nesse jogo e não usou mais desde então. Usar uma nova formação não foi suficiente. Na primeira jogada, o Saints adicionou outra camada de dúvida, colocando o right tackle Ryan Ramczyk ao lado do left tackle Terron Armstead, em um tackle-over look.


Alvin Kamara ganhou apenas uma jarda depois que Taysom Hill lhe passou a bola, mas esse não é o ponto. É algo novo no esquema do jogo que os adversários têm que se preparar.

"(Payton) não tem medo de pensar fora da caixa e colocar as pessoas em posições estressantes, onde você tem que tomar uma decisão", disse Kurt Coleman, safety do Saints, que passou as três temporadas anteriores jogando pelo Carolina Panthers. "É quase como um ataque rápido, onde você está tentando pará-lo de uma vez."

O Saints apresenta novas formas toda semana. Eles usaram 24 formações de ataque diferentes nesta temporada, de acordo com a contagem do The Advocate. Para colocar isso em perspectiva, uma equipe na vanguarda da criatividade e variedade pode atingir 14 ou 15 formações em uma única temporada. A maioria usa 10, 11 formações.

A chave para chegar a esse número sem precedentes é Hill, cuja presença permitiu que o Saints adicionasse nove formações de ataque que colocam vários quarterbacks em campo ao mesmo tempo. Pode parecer que a única coisa para se preparar nessa situação são algumas corridas read-option ou escolher onde cada quarterback ficará alinhado, mas é mais complicado do que isso.

New Orleans recentemente teve que se preparar para essas formações ofensivas contra Baltimore, que usa Lamar Jackson de uma forma similar, e Cincinnati, que começou a usar Jeff Driskel como seu quarterback coringa. De certa forma, com um segundo quarterback, é como se a defesa tivesse que se preparar para enfrentar dois ataques diferentes.

"Ter um quarterback que pode correr com a bola e estar disposto a correr com o seu quarterback, defensivamente te obriga você jogar 11 on 11", disse Dennis Allen, coordenador defensivo do Saints. "Então, como você planeja as coisas e como faz as coisas acontecerem, daí tem que usar jogadores que você normalmente não usaria para parar a corrida do quarterback."

Payton está de olho em como as formações com Hill estão sendo defendidas pelas outras franquias e parece criar tendências para acalmar as equipes por tempo suficiente para explorá-las mais tarde.

As defesas começaram a se distanciar e manter seus safeties a 10 jardas da linha de scrimmage sempre que Hill esta alinhado como quarterback, o que faz sentido. Na semana 8 em Minnesota, Hill tinha passado apenas uma vez quando estava de QB, um passe incompleto para Kamara.

Colocar um safety  ajudou a defesa a ter um homem extra para impedir Hill de correr. Então, contra o Vikings, Payton desenhou uma jogada em que Hill jogou uma bomba para Michael Thomas, que foi estava apenas com marcação individual sem um safety em profundidade. Isso resultou em um ganho de 44 jardas.





Outra maneira que as defesas começaram a trapacear foi ter um defensor designado para cobrir Brees quando ele se separa e vai para a posição de recebedor. Então o Saints faz uma jogada em que Brees deveria lançar um passa contra o Rams. Los Angeles marcou Brees, e Hill foi forçado a correr com a bola, mas a ameaça está agora gravada e as defesas sabem que o Saints está disposto a lançar a bola para Brees.


E no contra o Eagles, com a equipe não dando muita atenção Hill como recebedor, elecorreu uma rota go e foi alvo em um passe profundo com o safety em profundidade sendo enganado e indo para o outro lado do campo. Foi um passe incompleto, mas, mais uma vez, mostra que a possibilidade pode ser mais importante do que a real execução.




Hill pode não ser um jogador que você tenha em mente para ser o principal quarterback de uma franquia na NFL - ainda não, pelo menos - ou como seu principal wide receiver, mas para New Orleans, isso não é ruim.


O Saints o armam de outras maneiras, inclusive como um bloqueador físico, como no touchdown de 38 jardas de Mark Ingram no primeiro quarto do jogo contra o Eagles, quando Hill foi o principal bloqueador para dar espaço para Ingram correr.

"Todo ano você olha para o nosso talento e vê se consegue colocá-los em lugares onde possam fazer as coisas bem", disse Payton. "Acho que parte disso não é ver o que um jogador não pode fazer, mas quais são as coisas que ele faz bem e depois tentar fazer essas coisas."

Hill está fazendo muito.

Ele jogou 38 snaps como quarterback, três como running back, 41 como tight end ou extremamente perto de um wide-receiver split e 39 como wide receiver (todas as estatísticas são até o jogo contra o Philadelphia Eagles, em 18/11/2018). Isso facilitou a criação de várias formações das quais a defesa não tem ideia de quem fará o snap até que a equipe saia do huddle - ou, como contra o Eagles, até que a equipe mova alguém para o backfield após estar alinhada.

A formação com QBs múltiplos mais comum do Saints (89 vezes) tem sido com ambos os quarterbacks, dois receivers, um running back e um tight end. Hill se alinhou como quarterback (30 vezes), running back (três), tight end ou como um tight split (33) e wide receiver (23) nessas jogadas (todas as estatísticas são até o jogo contra o Philadelphia Eagles, em 18/11/2018).

Mas a medida do sucesso não é tão simples quanto olhar para um conjunto de números. Fazer essas jogadas beneficia o ataque em todos os snaps.

"Isso realmente pesa na parte da preparação, porque você precisa estar preparado, embora eles não usem todos as formações em um jogo, certamente precisa se preparar para isso", disse o técnico de Atlanta, Dan Quinn. "Eles têm um grande playbook e, com o passar dos anos e com combinações diferentes de formas diferentes que eles colocam os caras, você precisa ter várias chamadas prontas."



Ter todas essas formações requer uma equipe de técnicos com mentes criativas, mas os jogadores também precisam ter a mentalidade certa para fazer tudo funcionar. Esse pode ser o segredo para isso se tornar uma parte grande do ataque e não apenas uma trick play ocasional.

Alguns quarterbacks, especialmente os estabelecidos como Brees, talvez não fiquem felizes com a ideia de alguém diferente lançando passes na red zone. Isso não parece ser o caso aqui. Brees já falou que mal pode esperar receber um passe de Hill e elogiou a equipe técnica por ser inovadora, mas outros quarterbacks admitem que isso pode não ser tão fácil de digerir.

O membro do Hall of Fame, Troy Aikman certamente não gostou quando o Dallas Cowboys falou em usar o wide receiver Ernie Mills para comandar alguns snaps em um ano. Mas ele admite que veria isso de maneira diferente se estivesse jogando hoje.

"Eu disse, 'é melhor ele estar preparado para jogar o resto do jogo porque eu irei para o vestiário'", disse Aikman. "Se eu estivesse jogando hoje, provavelmente teria uma atitude um pouco diferente sobre isso. Hoje é mais aceitável.”

Isso não só se tornou aceitável. Agora é uma parte essencial do playbook. Mesmo que nem sempre seja aparente, esse truque está afetando todas as jogadas e desempenha um papel significativo no ataque do Saints, virando uma força imparável.

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