A Cidade, O Furacão e O Super Bowl

Superdome após o Katrina - 9/9/05
Photo by Michael DeMocker
Como um furacão salvou uma franquia da NFL.

Folha de São Paulo: 29 de Agosto de 2005 - O furacão Katrina atinge o sul dos Estados Unidos, deixando cerca de mil mortos e prejuízos ao longo da costa do Golfo do México. O Katrina provocou a ruptura dos diques de Nova Orleans - Louisiana, que teve 80% de sua superfície inundada durante vários dias. Dezenas de milhares de pessoas abandonaram as áreas inundadas ou destruídas.

"Katrina quem?
Vai Saints!!"
Creio que todos sabem a história do Katrina, poderia ficar horas falando só sobre o furacão, mas esse não é o objetivo principal do texto. Mas caso queira saber mais sobre isso: em português Folha de São Paulo ou em inglês nola.com

Citando o nola.com: "Nova Orleans para sempre existirá como duas cidades: a que existia antes dessa data, e a cidade após esse dia." 

Rita LeBranc
Mas, o que isso tem a ver com o Saints? Simples, após o Katrina, Tom Benson - dono da franquia - pensou em transferir o time para outra cidade, mas sua neta Rita Benson LeBlanc não permitiu que isso acontecesse: "Para mim, a reconstrução do time foi tão importante quanto a reconstrução da cidade." (Revista Veja - A arte de tocar em frente)

Não acontece com frequência, mas às vezes um evento esportivo é muito mais do que isso. Em 2006, o retorno do Saints ao Superdome foi o símbolo de que Nova Orleans estava se recuperando do Furacão Katrina. 

Um artigo de 27 de Agosto de 2010, no The Times-Picayune lembra de coisas que foram esquecidas após o sucesso do Saints na temporada de 2010: A equipe provavelmente não teria alcançado tanto sucesso sem o Katrina. Este, por sua vez, talvez tenha tido uma participação em salvar o futebol americano profissional em Nova Orleans.

Sem a tempestade, o Saints talvez ainda estaria na cidade, mas eu duvido que eles teriam ganho o Super Bowl e há poucas razões para pensar que o time teria experimentado o tremendo sucesso fora de campo.
As pessoas esquecem de quão frágil era a situação do Saints meses antes do Katrina acontecer.
Em campo, o Saints estava atolado na mediocridade. Havia perdido os playoffs por quatro temporadas consecutivas e era guiado pelo inconsistente Aaron Brooks. Tinha o pior tipo de média: competitivo suficiente para manter as esperanças e afastar grandes mudanças, mas não tão bom para superar os obstáculos e chegar aos playoffs. De 2001 à 2004, o time terminou com: 7-9, 9-7, 8-8 e 8-8.
Fora de campo, as coisas eram ainda piores. As discussões constantes de Tom Benson com o Governo por causa de um novo estádio e o flerte incessante com cidades rivais havia desgastado os fãs. Ele e as outras duas caras da franquia - Brooks e o então head coach Jim Haslett - tinham efetivamente polarizado os torcedores.
Benson tinha encerrado as discussões com o Governo e enviado emissários para se encontrar com representantes das cidades de San Antonio e Albuquerque - Novo México, para conversarem sobre uma relocação. Enquanto isso, o Saints era considerado o principal candidato por observadores da liga a se mudar para Los Angeles.
Frustados e perplexos, os torcedores dos Saints sentiram-se traídos. No verão (no hemisfério norte) antes do Katrina, a venda de ingressos para a temporada girava em torno de 33 mil vendas, uma diminuição de 40% se comparado a dois anos antes.
Quando o Saints abriu o training camp em 2005, era uma franquia à beira da implosão. A última coisa que precisava era de um grave revés.
Mas o Katrina não destruiu o Saints. Milagrosamente, incrivelmente e de uma maneira improvável, o furacão salvou o time.
Comemoração após o SB44
"Nossa cidade: Vítimas a vitoriosos. Obrigada Saints!"
Isso levou o Superdome a uma renovação necessária. A devastação do Katrina estimulou uma reforma geral em quase toda a estrutura do estádio. Quando o estádio foi reformado, o time ganhou um estádio novo, aquele que Benson tanto queria antes do Katrina. E cerca de 38% dos $304 milhões gastos com a reforma foram pagos pela FEMA.
O exílio induzido pela tempestade deixou a franquia com um recorde de 3-13 ao final da temporada de 2005, o que estimulou a gestão do Saints a mexer em todo seu planejamento. Sem o Katrina, é possível que Haslett e Brooks teriam mantido seus empregos. Não haveria Sean Payton. Não haveria Drew Brees. O time provavelmente não teria terminado com 3-13, o que significa que quase certamente o RB Reggie Bush não teria sido draftado pelo Saints.
A tempestade também rompeu as barreiras existentes entre o Estado, a administração do time e os torcedores. A crise forçou todos a se unirem e lutarem por uma causa em comum.
O Saints teve que reavaliar seu plano de negócios, e se aproximar mais dos fãs e começou a ajudar a comunidade.
Milhares de fãs no primeiro jogo em casa do Saints após o Katrina em 25/09/06
 Serviu como um despertar para os fãs e a comunidade empresarial local; eles já não teriam o time da casa garantido. A estreita ligação com San Antonio abriu os olhos, e a torcida apoiou o time como nunca antes.
Hoje, o Saints tem todos os ingressos esgotados pela quarta temporada seguida (texto de 2010). Os novos 16 camarotes de luxos adicionados, deixando o estádio com um total de 153, também estão todos vendidos. 
Há muitos heróis nessa história.
O ex Comissário da NFL Paul Tagliabue, pela sua liderança, empenho e visão.
O administrador do Superdome Doug Thornton, pelo seu trabalho incansável na renovação do estádio.
E, claro, Sean Payton, Drew Brees e os jogadores e treinadores do Saints. Sem seus talentos, a mágica de 2006 nunca teria ocorrido e quem sabe como as coisas seriam.
Mas os maiores heróis dessa história são os cidadãos de Nova Orleans. Em última análise, eles são a maior razão do sucesso.
Placa branca: "Não importa onde esteja, eu sempre serei um fã Who Dat."
Placa amarela: "Madeira...$200/ Seguro inundação...$500/ Furacão Katrina...$200 bilhões/ O New Orleans Saints...Não tem preço!"
Eles mostraram fé quando não havia nenhuma. Eles acreditaram quando não havia razão nenhuma para isso. E eles deram o primeiro passo nesse novo relacionamento pós Katrina.
No início de 2006, o Saints vinha de uma temporada cheia de derrotas com um treinador desconhecido e um free agent quarteback que se recuperava de uma cirurgia muito delicada no ombro e nada mais que isso. Quando o time retornou a Nova Orleans, o objetivo não era permanecer na cidade por muito tempo. Tagliabue disse no dia em que anunciaram que o Saints voltaria a Nova Orleans: "Ainda há várias coisas a serem cumpridas para tornar isso um arranjo permanente."
"Que vocês sejam abençoados pelo que fizeram por NOLA."
 Apesar disso, os fãs do Saints compraram ingressos em massa. Muito antes de Brees assinar ou Bush ser draftado.
"Nunca se renda." 
Pergunte a qualquer treinador ou jogador do Saints e eles dirão que foram levados pela crua e cinética energia da torcida em jogos em casa na temporada de 2006. Muitos dos jogadores da equipe ainda não sabem onde ficam os pontos históricos da cidade. Mas eles sentiram a paixão no Superdome quando U2 e Green Day cantaram na noite de reabertura contra o Atlanta Falcons. O apoiou só aumentou.

Um título do Super Bowl, duas aparições no NFC Championship, cinco anos consecutivos de ingressos esgotados e um aumento de 33% no valor da franquia.
Está claro que o Saints está saudável como nunca esteve.

Comentários

wagner disse…
Ótima matéria!!!
arrepiante em alguns momentos!

#whodat
Jéssica Laíse disse…
Obrigada Wagner. Fiquei com os olhos marejados quando terminei de traduzir a matéria.
Alan disse…
Lindo post me emocionou WHO DAT !!!
Mau Franco disse…
Sensacional Jéssica...
Que continuem a crescer...
Jéssica Laíse disse…
Obrigada Franco. Esperamos que o Saints cresça cada dia mais!
Rodolfo Maciel disse…
Sensacional matéria, esse blog me faz ser mais apaixonado pelo Saints, obrigado =D
Anônimo disse…
Muitoo bom o texto, comecei a acompanhar a NFL a pouco tempo, mas já sou um grande fã do Saints
Rogerio Dentinho disse…
Excelente matéria!!!
A musica do U2 com GreenDay, arrepia tanto quanto ler essa matéria.
#SaintsNations #whodat
Jéssica Laíse disse…
A música cantada no Superdome ficou incrível mesmo Rogério. Obrigada por passar no blog.

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