Entrevista com Marco Alfaro


Seguindo a lista de fazer um bate-papo com os maiores entendedores de futebol americano do país, falamos com Marco Alfaro, ele que foi comentarista da ESPN internacional por muito tempo e acompanhou bons momentos do New Orleans Saits. Gentilmente ele nos cedeu esta entrevista muito interessante.

SaintsBrasil: Qual o melhor Saints que você já viu jogar?

Marco Alfaro: Desembarquei em New York no final de 1990 e tive a chance de acompanhar os melhores anos da história do New Orleans Saints. Após o entusiasmo da criação do Saints em 1967, os torcedores do santos americano padeceram vinte anos até chegarem à terra prometida dos playoffs. A honra de melhor Saints de todos os tempos pode ser dividida de acordo com o gosto do freguês. O time de 1991, comandando por Jim Mora, ganhou pela primeira vez uma divisão graças a forte defesa. Especialmente ao grupo de linebackers, os chamados Dome Patrol ( a patrulha do Superdome). O Saints de 2000, do treinador Jim Haslett, ganhou novamente a divisão oeste da NFC (atualmente o Saints está na divisão sul), com bom sistema ofensivo, e venceu pela primeira vez um jogo de playoff carregado pelo talentoso, e sem juizo, RB Ricky Williams. Mas ao meu paladar o melhor New Orleans Saints de todos os tempos foi o de 2006. Um tremendo ataque com o QB Drew Brees (liderou a NFL em passes, 4.418 jardas e foi o terceiro em TDs 26), o Mr.Hollywood Joe Horn como WR e a dupla carga pesada Deuce McAllister e Regie Bush. A defesa também merecia respeito ao terminar a temporada regular como a quarta da NFC. Foi até com surpresa que vi o Saints cair diante do Chicago Bears por 39x14 na final da NFC após ter superado em casa o Philadelphia Eagles. Mas para quem não viu o jogo fique a certeza: O Bears mereceu vencer, mas o placar poderia ter sido bem mais apertado para o time de Chicago.

SB: Qual sua opinião sobre Sean Payton?

M.A.: Assim como no futebol, a maioria dos torcedores na NFL julgam os treinadores pelas vitórias ou derrotas. Eu prefiro analisar o conjunto da obra de um treinador. Se levarmos em conta o farrapo de time que o Sean Payton herdou em 2006 ( vindo de uma campanha vergonhosa de 3 vitórias e 13 derrotas com Jim Haslett) e fazer o milagre de ganhar 10 partidas, classificando o Saints aos playoffs, ele deveria ter crédito com a torcida por muitos anos. Isso tudo somado ao forte poder de motivação de Sean Payton mantendo os jogadores concentrados apesar do furacão Katrina ter devastado Nova Orleans em agosto de 2005. Não bastasse a competência herdada de Jim Fassel, outro injustiçado, dos tempos de New York Giants, Sean Payton é o grande responsável pelo renascimento da carreira de Drew Brees. Sei que a campanha de 8-8 no ano passado deixou um gosto amargo na boca dos torcedores do Saints mas se o copo está pela metade de água, acredito que esteja meio cheio, ao invés de meio vazio.

SB: Reggie Bush é bust?

M.A.: Não pois ele resolveu seguir o meu conselho à todos os jogadores craques, talentosos e fora de série. Evite a todo o custo a maldição da mulher-gata. Nada contra o desejo que nós homens temos de carregar uma beldade ao braço. Mas criei a maldição da mulher-gata nos tempo de ESPN e o passar dos anos, e vários exemplos, só confirmam a minha tese. O Mulherão, a gata de parar trânsito é a kriptonita do super atleta. Não estou falando das nossas amadas e simpáticas namoradas, paqueras, esposas e amigas. Estou falando naquela beleza enfeitizadora. Os exemplos são muitos de grandes atletas que cairam do pódium por estarem fracos das pernas: Mike Tayson, André Agassi, Pete Sampras, e mais recentemente Tom Brady. O QB do New England Patriots havia jogado três Superbowls, e vencido todos, até conhecer a nossa bela Gisele. O resultado foi a primeira derrota dele no Superbowl, diante do azarão Giants, e a lesão sofrida no primeiro jogo da temporada seguinte. Coincidência? Ou a maldição da mulher-gata? Pois como todos sabemos o RB Regie Bush se encantou pela bela Kim Kardashian e lá se foi o futebol americano por água a baixo. Mas não desanime torcedor do Saints, pelo que informam os programas de fofoca aqui nos Estados Unidos, Regie e Kim resoveram dar um tempo. Ou seja o cara voltará com tudo. Resumindo: meu caro super atleta deixe as super gatas para nós meros mortais que vivemos de sonhos e contas para pagar ao final do mês.

SB: O Saints nunca ter ido ao Super Bowl foi falta de sorte ou de competência?

M.A.: Não acredito em falta de sorte na conquista de um título do Superbowl. Claro que uma partida de playoff pode pender para um lado, ou outro, devido a um lance fortuito. Mas as grandes dinastias, times que voltaram ano após ano aos playoffs conseguiram isso pela competência dos diretores, grupo técnico e o talento de alguns jogadores excepcionais. É preciso lembrar que os donos do Saints estavam prontos para vender o clube, e possivelmente relocá-lo, quando New Orleans foi atingida pelo Furacão Katrina. Ai a comoção nacional mudou tudo. Se existe algo de azar na história do Saints, acredito, é ter sido presenteado com o San Francisco 49rs como inimigo de divisão durante muitos anos na NFC Oeste.

SB: Qual momento mais marcante de um jogo do Saints que você já comentou?

M.A.: Acredito que tive uma honra única na história das transmissões da NFL. Eu, mesmo sendo comentarista, narrei sozinho o jogo New Orleans Saints X New York Giants em 14 de dezembro de 2003. Lá estava eu na cabine da ESPN esperando o parceiro de guerra André José Adler para a transmissão. Um minuto antes de entrarmos no ar, ao vivo, sou informado que o André estava impossibilitado de narrar a partida. Nosso diretor Rodolfo Martinez me perguntou se eu topava fazer a partida sozinho. Primeiro pensei: Quatro horas narrando e comentando? Tá maluco? Mas no momento seguinte eu lembrei de tantos amigos e amigas, em especial os torcedores daqueles dois times, que estavam lá no Brasil esperando pelo pontapé inicial. "Rodolfo, manda bala que vou fazer". E foi assim que narrei e comentei o passeio do Saints em cima do Giants (45x7) com direito ao WR Joe Horn marcando um TD e tirando o celular da meia para telefonar para a mamãe. "Tá certo Joe Horn. Tem que dar um alô para a mamãe de vez em quando". A minha mamãe que estava escutando o filhote lá em Porto Alegre ficou toda prosa.

SB: Drew Brees é o melhor QB da NFL?

M.A.: É sem dúvida um dos mais talentosos mas o que separa o craque do imortal é a superação dos obstáculos considerados impossíveis. Mesmo enfrentando o frio, vento e defesa feroz do Chicago Bears na final da NFC em 2006, Drew Brees ficou aquém de um atleta que esta pronto para ser chamado imortal. E não considero a conquista do anel de campeão como passaporte para entrar neste seleto grupo. Dan Marino é um imortal e jamais ganhou o Superbowl. Porém soube superrar estes momentos decisivos. De Joe Montana à Peyton Manning, de John Elway à Tom Brady todos enfrentaram momentos em que precisaram morder os lábio e domar o touro. Drew Brees tem potencial, mas ainda falta superar o insuperável.

SB: Voce chegou a ver a lendária Dome Patrol jogar? Foi o melhor grupo de LBs de todos os tempos?

M.A.: Desembarquei em Nova York no ano de 1990 e acompanhei meu primeiro campeonato da NFL em 1992. Portanto peguei a última rapa da panela dos LB de ouro do Saints. O quarteto composto por Pat Swilling (quatro vezes convicado para o pro-bowl), Vaughan Johnson (quatro vezes convocado para o Pro-bowl), Sam Mills (quatro vezes convocado para o pro-bowl) e o fenomenal Rickey Jackson foi um pesadelo para os QB e RB adversários durante o final da década de 80 e início dos anos 90. A única oportunidade que tive de assistir o Dome Patrol (patrulha do Superdome) , já que naquele tempo não existiam tantas opções de jogos da NFL na TV, foi curtir a surra que o Saints aplicou na casa do New York Jets (20x0).

SB: Saints com nova secundária é favorito ao Super Bowl?

M.A.: Favorito talvez seja um pouco de otimismo exagerado, mas com certeza a defesa do Saints irá melhorar em relação aos anos anteriors quando terminou como a vigéssima terceira e vigéssima sexta da liga. A contratação do coordenador defensivo Greg Williams, ex-Buffalo Bills, mostrou a determinação dos proprietários em reforçar o setor. E isso aconteceu em larga escala com a aquisição do CB Jabari Greer, S Darren Sharper, S Pierson Prioleau e o recrutamento do CB Malcolm Jenkins. Além de Randall Gay (lesionado) e Usama Young. A dúvida fica na regularidade da primeira linha de defesa. No ataque o Saints retorna motivado e querendo vingar a lanterna na divisão em 2008.

Caros amigos quero me despedir agradecendo a amizade de tantos anos de NFL na ESPN e desejar que o seu time do coração conquiste o superbowl XLIV em fevereiro na ensolarada Miami. Boa sorte.


Comentários

Guilherme Sette disse…
Gostaria de ver alguma coisa dessa Dome Patrol.
Parece ter sido incrível!

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